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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Comentário crítico

Unanimente considerada como uma das obras-primas da ficção brasileira e colocada em destaque entre as cinco principais obras de Machado de Assis - ao lado de Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó e O Alienista - Dom Casmurro nunca deixou de estar em evidência ao longo de quase um século de sua publicação, enfrentando, assim, as vissicitudes críticas comuns à obra machadiana.

Diante da inegável importância da ficção de MA e de sua fluidez, que recusa qualificativos e teorias, e não raro monta armadilhas para análises que pretendam ser totalizantes, a crítica, ao longo do tempo, reagiu das mais variadas formas. Alguns censuram em MA a falta de um compromisso mais direto com a realidade, posição que, de pernas para o ar, acabou na visão, muito em voga até recentemente, segundo a qual sua obra possuía tal universalidade que tornava impossível referi-la a um contexto histórico determinado. Outros, numa posição que também fez fortuna, destacaram na obra machadiana a atmosfera de humour, nascido de uma fusão de tristeza e enfado diante da vida. Este seria o Machado de Assis 'filósofo'.

A visão biografista, aplicada a outros romancistas de sua época, também atingiu o autor de Quincas Borba. Ao tentar explicar a obra a partir da vida do autor, o biografismo, no caso de MA, chegou ao extremo de considerar seu humour, o desencanto diante da vida que transparece em suas obras, como resultado de sua recusa em assumir a condição de mulato. Neste sentido, a visão de mundo presente na obra machadiana seria o produto de um desejo intenso, frustrado em virtude da barreira representada pela consciência da própria cor, de arianização social e branqueamento ideológico. Como em todos os casos, tal interpretação biografista não vai além de uma observação sobre o autor - que pode até ser verdadeira mas que é sempre dispensável - e nada diz especificamente sobre a obra.

Nas últimas décadas, a crítica machadiana tendeu a tomar outra direção, orientando-se decididamente no sentido de uma análise profunda da obra em si e dando especial atenção aos elementos históricos nela contidos. E então não foi difícil perceber que, ao contrário do que faziam supor muitas posições críticas até ali sustentadas, MA apresenta com extrema profundidade e de maneira bastante explícita a sociedade carioca e brasileira das últimas décadas do séc. XIX, expondo claramente sua estrutura de classes e seus mecanismos de poder.

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